Uma
das principais críticas feitas por especialistas em relação ao
acelerado processo de implementação das Unidades de Polícia Pacificadora
(UPPs) está na formação dos seus policiais militares. Na semana
passada, o assassinato de um jovem de 17 anos já rendido no Morro da
Providência, no Centro do Rio de Janeiro, reacendeu a polêmica, depois
que três soldados novatos foram flagrados pelo celular de uma moradora
adulterando a cena do crime e forjando uma reação que não existiu.
Agora, uma investigação concluída pela Divisão de Homicídios (DH) mostra
que os próprios policiais têm sido vítimas dessa apressada 'linha de
montagem' ocorrida nos últimos anos dentro do Centro de Formações de
Praças - a academia da PM.
No dia 11 de setembro do ano passado, um desses iniciantes, o soldado
Diogo Araújo Zilves, então com 32 anos e apenas um ano na corporação,
integrou um grupo formado para reagir a um ataque de traficantes do
Complexo do Alemão. Ele era o segundo homem de uma fileira de seis que
entrou no Beco da Padaria, no alto da Favela Nova Brasília. Na frente - o
chamado 'ponta 1' - ia o chefe da UPP local, o experiente capitão
Uanderson Manoel da Silva, de 34 anos. Dentro de um beco de dois metros
de largura, Zilves disparou 26 vezes com seu fuzil calibre 5.56. Uma
dessas balas entrou pela axila direita e saiu pelo peito do comandante
que liderava a patrulha. Socorrido, o oficial não resistiu.
A história já vinha sendo contada nos corredores da própria unidade e foi revelada por VEJA
em janeiro. Agora, o relatório que segue para o Ministério Público
esmiúça a ação desastrosa daquele fim de tarde. No caso, ficou claro
para os investigadores que a morte do capitão foi acidental e se deu por
imperícia no momento em que os policiais da UPP agiam em legítima
defesa ao serem atacados por traficantes. Por isso, o autor do disparo
não será indiciado. "Diante do quadro probatório coligado nos autos, é
possível concluir que a morte da vítima Uanderson encontra-se
circunstanciada com a ação legítima do policial militar Diogo Zilves, em
cuja resultante da conduta deu-se em decorrência de erro de execução,
nos exatos termos previstos no artigo 73 do Código Penal, razão pelo
qual deixo de indiciá-lo", justifica o delegado Giniton Lages, que
concluiu o inquérito há duas semanas.
A investigação cruzou dados do laudo cadavérico, da perícia de local,
da reprodução simulada (reconstituição) e dos próprios depoimentos dos
policiais que participaram da ação. Naquela tarde, Uanderson já se
preparava para ir embora quando começaram os tiros. Uma equipe da UPP
havia sido atacada bem perto da base, na localidade conhecida como Largo
da Vivi. O capitão, segundo a investigação, foi socorrer os
subordinados sem usar uniforme e até mesmo sem um colete à prova de
balas. Ele e outros cinco soldados entraram no beco à caça dos
criminosos que atiravam.
Pelas cápsulas recolhidas no local, a Divisão de Homicídios pode
afirmar que os bandidos usaram dois tipos de calibre: pistola 9mm e .40.
Já os PMs utilizaram fuzis 7.62 e 5.56: "...é possível asseverar que a
morte da vítima efetivamente ocorreu em um cenário de troca de tiros
entre policiais e criminosos; resta possível concluir-se que durante o
referido confronto, os PMs usaram armas de grosso calibre, ao passo que
os criminosos realizaram disparos de arma de fogo utilizando-se de
pistolas", diz o relatório. Segundo a perícia, policiais dispararam pelo
menos 53 tiros, enquanto criminosos atiraram 21 vezes.
Fonte:Veja
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