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sábado, 14 de janeiro de 2017

Na Bahia e Ceará: O que se sabe sobre o surto da doença que deixa a urina escura


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© image/jpeg size_960_16_9_151262805.jpg/reprodução
Desde dezembro, a Bahia e o Ceará enfrentam o surto de uma doença misteriosa. A chamada “mialgia aguda”, que deixa a urina escura, já atingiu mais de 50 pessoas e causou duas mortes no país.
EXAME.com conversou com a Secretaria de Saúde de ambos estados para entender o que se sabe sobre essa nova doença.
Veja abaixo o que está relacionado ao surto.
Quando e onde começou o surto?
O primeiro registro foi notificado à Secretaria de Estado da Saúde da Bahia em 14 de dezembro de 2016. Desde então, novos casos foram verificados no município de Vera Cruz (BA), Salvador (BA) e Fortaleza (CE).
Quais são os sintomas relacionados?
Dentre os casos investigados pela Secretaria de Saúde da Bahia, 97,7% apresentaram dores musculares intensas (principalmente na região cervical e trapézio), 44,2% dor ao leve toque no corpo, 47,7% urina escura (com a cor variando entre vermelho escuro e castanho) e 36,4% relataram dores articulares e sudorese.
Todos os pacientes registraram elevação das enzimas musculares cretinofosfoquinase (CPK), que compromete a função renal do indivíduo.
Quantas pessoas foram infectadas pelo vírus?
Até a publicação desta reportagem, 52 casos suspeitos de mialgia aguda foram relatados nos municípios de Salvador (51) e Vera Cruz (1). Dois pacientes foram a óbito.
No Ceará, três casos foram notificados em Fortaleza até o dia 10 de janeiro de 2017.
O que causa o problema?
Ainda não há certeza sobre a causa real da doença. No entanto, a partir do surgimento dos casos, especialistas passaram a desconfiar que o problema esteja relacionado com o consumo de um determinado peixe do litoral da Bahia, conhecido como olho de boi ou arabaiana.
Quais exames comprovam a presença do vírus e qual o tratamento?
No caso de suspeita, o paciente deve ter as amostras de fezes, urina, soro e hemocultura coletadas.
Como as causas da doença ainda estão sendo investigadas, a orientação de tratamento é hidratação imediata e uso de analgésicos. O uso de antiinflamatórios não é recomendado.
Segundo as Secretarias de Saúde dos estados, não há nenhum tipo de prevenção específico.
Fonte:Exame MSN*Com agência de notícias

Sobre Temer: "Um governo que segue cheio de Geddéis e Jucás"diz Caetano Veloso


          Caetano e a cantora Carioca Tereza  Cristina  nos dias 20 e 21/01/17 na Concha Acustica -foto:Fernando Iglesias Mas | Divulgação/reprodução

Com o passar dos anos, Caetano Veloso amplia o seu percurso no universo da música popular. Nunca acomodado ou repetitivo. Os seus novos projetos surgem e ganham a real dimensão. Rodam o mundo em apresentações memoráveis tanto para norte-americanos como para brasileiros e japoneses.  Entre dezembro e fevereiro, no ensolarado verão da Bahia, o cantor e compositor diminui o ritmo das viagens. Descansa e curte uma espécie de férias. Isso porque circula nas ruas de Salvador, se informa dos hits (e não só) do momento, recebe amigos e faz shows. 
Na próxima semana, sexta e sábado,  às 19h, ele realiza o espetáculo Caetano Apresenta Teresa, no qual divide o palco com a carioca Teresa Cristina. Será na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. Ela começa cantando Cartola –  roteiro baseado no álbum em que interpreta o sambista. 
Depois o baiano entra em cena e passeia por algumas de suas canções que não fizeram parte da turnê Dois Amigos, Um Século de Música  com Gilberto Gil, entre 2015 e 2016. Finalizam juntos. 
De sua casa soteropolitana, no Rio Vermelho, Caetano falou por e-mail ao A TARDE da conexão com Teresa Cristina, dos caminhos e descaminhos do Brasil, dos 50 anos da Tropicália, de Anitta, do passeio “comovente”  na Barra com Pedro Almodóvar – e das reformas no lugar –, além do sucesso Me Libera Nega, de Ítalo Gonçalves, o MC Beijinho.  
               
É recorrente em sua vida a parceria com cantoras. De Gal Costa, sua amiga desde os anos 1960, até Maria Gadú, que você conheceu no Rio e gravou o CD/DVD. Isso para citar duas que tiveram alcance massivo. O que mais te chamou a atenção nas interpretações e na personalidade de Teresa Cristina?
Eu ouvia falar de Teresa e logo que saiu o CD com a obra de Paulinho da Viola  comprei para ouvir. Admirei o tom de respeito: tudo o que Paulinho fez estava ali de forma correta. Mas, o que dizia Teresa? Ela parecia se defender das próprias emoções. Depois ouvi coisas em que ela estava mais presente. E sua gravação de minha Gema  me levou a querer que ela cantasse comigo numa das noites da série Obra em Progresso, que mantive no Vivo Rio durante a feitura de Zii e Zie. Quando nos encontramos para ensaiar, uma nova pessoa se revelou: ela sabia tudo sobre minhas canções, tinha uma cabeça desembaraçada e uma vastíssima cultura de música popular. De Candeia a heavy metal, Teresa estava impregnada de música. E sabia falar sobre isso. Agora, quando ela ia fazer o Teresa Canta Cartola, tive uma conversa com ela sobre a impressão de neutralidade que ela transmitia. Foi um papo rápido. Mas ela soube aproveitar  de forma muito impressionante. O show ficou lindo, com o violão de Carlinhos Sete Cordas dando o amparo preciso para as interpretações sóbrias mas cheias de nuances de Teresa. O CD/DVD disso entusiasmou o presidente do selo americano Nonesuch (que lança minha obra nos EUA) e teve lançamento mundial. Para reforçar a promoção do  lançamento, eles me convidaram para dividir um show com ela em Nova York, no qual uma parte fosse o show dela e outra uma apresentação minha só com meu violão. Isso levou a outros convites, inclusive os do Brasil. 
Você disse que ficou impressionado com o conhecimento de Teresa Cristina tanto das suas músicas quanto do samba carioca e de sons estrangeiros. Essa   vontade de conhecer profundamente o cancioneiro popular também é constante na sua trajetória. Nos anos 1960 chegou a participar de quadros na  TV com competição para completar a letra da música. Se identificou com esse interesse?
Totalmente. Teresa é um grande papo sobre canções. 
Como têm sido as experiências do show no exterior? Você foi no ano passado fazer um espetáculo de celebração e memória com Gilberto Gil e agora volta para apresentar uma cantora ainda desconhecida lá fora…
Os shows foram muito bem. Teresa e Carlinhos arrasam na primeira parte e eu, na segunda, entro com um show totalmente diferente: com canções minhas e apenas duas (estrangeiras) de outros autores. Meu critério foi escolher canções relevantes que não  tivessem constado do repertório do show com Gil. Tive a surpresa de gostar mais de minhas antigas canções do que gostava. O show com Gil foi glorioso, uma mirada histórica em tom informal. Com Teresa, é uma apresentação de como se move a música brasileira agora mesmo –  e de umas olhadelas para o lugar que minhas musiquinhas ocupam nela. 
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O Brasil sempre foi um grande desconhecido mundial. Minha geração viu isso ensaiar deixar de ser assim
Caetano Veloso
Nessas viagens, enxerga a crise política e econômica brasileira reverberando em outros lugares? Há pouco tempo havia uma crença internacional na força crescente do Brasil...
O Brasil sempre foi um grande desconhecido mundial. Minha geração viu isso ensaiar deixar de ser assim. Com a bossa nova de João e Tom, com o Cinema Novo de Glauber e Cia., com o Clube da Esquina de Milton e sua turma –  e, depois, com a redemocratização trazendo Fernando Henrique e Lula para a presidência – a vida brasileira passou a ser vislumbrada pelos povos de fora. O país chegou até mesmo –  com a alta das commodities e a grande ampliação do Bolsa Família –  a ser saudado como uma nova força mundial. Acho que nós sabíamos que não era. Brasileiros emigravam como nunca antes em nossa história. E os que aqui ficávamos tínhamos intimidade com o caos moral na organização do poder, sabíamos que viver de vender commodities é esquema de colônia, e conhecíamos o horror das nossas prisões. Nos perguntávamos quando é que tudo iria ruir de novo. Aconteceu. De minha parte, acho que o Brasil não pode se afirmar pelos métodos convencionados pelo Ocidente ainda dominante. Tem que saber que deve inventar outra coisa. 
A discussão sobre o Brasil é presente nos seus textos e nas opiniões em entrevistas. Com frequência você exalta os potenciais e as realizações do país, mas também pondera os seus caminhos e descaminhos. Nos últimos anos falou com entusiasmo do pensamento do filósofo Mangabeira Unger, da contínua renovação e do vigor da canção na música brasileira e criticou a extinção do Ministério da Cultura e o impeachment de Dilma Rousseff. Em novembro do ano passado disse que “o Brasil deve repensar tudo”. O que isso significa nesse momento?

Acho que disse quase tudo na resposta anterior. Fui e sou contra o impeachment de Dilma. Acho que desestabiliza as instituições ver legisladores acusados de crimes deporem uma presidente sobre quem não pesavam acusações graves e claras. Sempre sentimos o gosto de Eduardo Cunha conseguindo não ser punido enquanto tocava o processo de impeachment e vir a sê-lo depois de tudo consumado.

Mesmo assim, os protestos contra a extinção do MinC implicavam um reconhecimento do governo que tinha assumido.O ministro Calero  reagiu duro contra a turma do filme Aquarius mas terminou virando a Clara (personagem encarnada por Sônia Braga, que, no filme, luta contra a violência da especulação imobiliária) do Porto da Barra. Mas o governo segue cheio de geddéis e jucás
Agora, diante do descalabro da situação prisional abrir-se como chaga exposta, temos mais certeza de que tudo deve ser repensado. Admiro Mangabeira porque ele sempre procurou as respostas difíceis. Nunca acolheu as interpretações convencionais. E crê num dever de grandeza do Brasil. Conversei poucas vezes com ele e li alguns dos seus livros. É um pensador original e pode contribuir muito na busca do nosso caminho. Talvez conversas como as que tive com ele, somadas ou contrapostas às que tenho com Antonio Cicero, e às leituras da escrita argumentativa tão potentes quanto a de Eduardo Viveiros de Castro, mais o que ouço em canto e papo com sambistas, roqueiros e cancionistas –  e, ainda, as falas curtas mas sempre consequentes de Zé Almino (sem falar em Mautner, Augusto de Campos, Luiz Tenório, Eduardo Giannetti...) me ajudem a formar figuras da nossa situação e da nossa natureza. 

Você tem o costume de passar um período do ano em Salvador, geralmente no verão. Há algumas semanas, inclusive, esteve com o cineasta Pedro Almodóvar, foram juntos ao Farol da Barra. O que pensa das recentes transformações urbanas da cidade?

O Farol estava muito bonito e comovente com gente simples da cidade passeando. O céu estava bonito. Andamos do Barravento ao Farol, o contornamos, seguimos andando até o Forte de Santa Maria. Voltamos andando até o Oceania. Tudo era bonito e tocante. Parecia que o Brasil era algo muito bom e que as obras feitas em Salvador eram todas corretas. Mas em outros momentos já tive uma impressão de que a obra da Barra fosse discutível. E acho que é. Mas é bom que tudo esteja limpo e cuidado. Quanto vai durar aquele chão taqueado de cimento? Por que tudo tão pouco arborizado? Se quem tem carro não tem onde parar lá, qual o risco de a área tender a se tornar lugar perigoso. No momento, estou feliz de estar aqui. Tinha saudades e meus amigos do Rio ou de Madri estavam encantados. Mas temos que prestar atenção.

Os seus vínculos iniciais com o Teatro Vila Velha (inauguração com o Teatro dos Novos e as apresentações no período pré-tropicalista) e a Sala Principal do Teatro Castro Alves (show  de despedida antes do exílio) são marcantes. Gostaria que falasse da sua ligação com a Concha Acústica.
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A axé music lutou, bravamente, por décadas, por algum prestígio entre os críticos e os bem-pensantes
Caetano Veloso
Um dos momentos mais altos da cultura brasileira (como um todo, não apenas do mundo dos espetáculos de música popular) foi um show de Djavan que vi na Concha, em que ele, depois de cantar Capim, deixava a plateia repeti-la inteira, acompanhada da banda. Capim  tem melodia difícil e divisões rítmicas complexas e surpreendentes. Mas o público de Djavan, claro, se compõe principalmente de gente que tem talento para a música. Era no tempo do Sua Nota Vale Um Show: o público era majoritariamente de gente do povo e de jovens. Essa gente cantava a canção com segurança perfeita. Era coisa de chorar. É algo que devia ter sido gravado e filmado, para educação dos brasileiros. Somos muito habituados a não caprichar no que fazemos: tínhamos a ilusão de que nossa vida não conta muito mesmo. Mas a bossa nova quebrou isso. E Djavan é exemplo alto de onde podemos chegar. Adoro ver shows na Concha e adoro cantar na Concha. Desta vez, espero que os que vão nos ver sejam capazes de silêncio respeitoso (e comovido) e de coro afinado quando for o caso. 
A Tropicália está completando 50 anos e homenagens já estão sendo preparadas. Como vai participar disso? 
Não fiz planos nenhum  para celebrar e Tropicália. Acho que o show com Gil fez isso por mais de um ano.

A atitude estética-política de quebra de preconceitos e fronteiras entre estilos por meio da afirmação da mistura de sons e uma certa alteridade oswaldiana-atropófaga são legados da Tropicália, sobretudo para a música brasileira contemporânea e artistas do chamado mercado independente (não necessariamente por escolha). Em entrevista à BBC no ano passado você falou que a Tropicália inexplorada é o “funk carioca, o sertanejo universitário e os restos da axé music”. Ou seja, o mainstream. Considera isso um paradoxo?

Não. Em primeiro lugar, acho que chamar o funk carioca de mainstream soa esquisito: uma forma desenvolvida por favelados, esculachada  pela crítica durante anos e ainda considerada algo tosco e que não merece respeito não é bem um exemplo de mainstream. Depois, a axé music lutou, bravamente, por décadas, por algum prestígio entre os críticos e os bem-pensantes. O sertanejo universitário é a mais nova (e influenciada pelo axé) marola da grande onda do centro-oeste, de que a cultura dominante do litoral sempre sempre guardou desdenhosa distância. Finalmente, a Tropicália foi também mainstream, com algumas canções nas paradas da época, apresentações no Jovem Guarda e no Chacrinha, um programa de TV só seu etc. Seria falta de memória pensar que a Tropicália foi um movimento de vanguarda cujos participantes agiram e ficaram na margem. Minha resposta a que você se refere foi provocativa. Enfatizava, de propósito, só um aspecto da realidade. Sei que Nação Zumbi, Adriana Calcanhotto, Liniker, Thiago Amud e muitos outros são expressão de aspectos fundamentais da Tropicália. Mas minha resposta provocava pensar mais do que isso. Ou isso de modo melhor.   
Em 2015, no texto de apresentação do disco Mãeana, de Ana Cláudia Lomelino, você elogiou Anitta.  Focou na questão técnica, nas suas palavras “a mais dotada” cantora brasileira nesse sentido. Porém, têm outros aspectos – repertório, musicalidade, presença, espontaneidade –  que na ocasião você não comentou. Como vê essas dimensões do trabalho dela?

O que mais me impressionou em Anitta, num ensaio para o Prêmio Multishow de dois anos atrás, foi a musicalidade. Ela cantava tão bem (e fazendo aqueles ornamentos que parecem eletrônicos), tão afinada e fincada no ritmo que perguntei a Kassin se era dublagem. Mas logo vi que ela parava, falava e voltava a cantar com a mesma categoria. Um ano depois, fiquei maravilhado ao ouvi-la cantar minha Gatas Extraordinárias. Durante a apresentação, achei que ela (em primeiro lugar), Pablo e Gerônimo  tinham sido os melhores da noite. E olha que a noite teve artistas muito bons: Ivete, Gadú, duplas sertanejas afinadíssimas etc. Mencionei Anitta no release do disco de Ana Claudia porque sou maluco. Parece que preciso mostrar minha independência para dar mais força às minhas escolhas. Ana Claudia tem o essencial de uma tradição cool que Anitta está longe de captar. Mas não era uma comparação. Nesse caso, não há lugar para comparação. De todo modo, ainda acho que citar Anitta no texto sobre uma igualmente nova cantora saída de ambiente totalmente diferente ajuda a desembaraçar a cabeça de quem lê e vai ouvir. 

Pretende voltar a fazer shows acompanhado por um conjunto maior (o último talvez tenha sido Noites do Norte, entre 2001 e 2003) após os discos com a banda Cê –  formada por três músicos –  e as últimas turnês voz e violão? 

Pode ser. Estou gostando das minhas músicas assim só com violão. Tenho vontade de tocar com meus filhos. Tenho saudade da banda Cê. Vou fazer alguma coisa com Jaquinho  (o instrumentista Jaques Morelenbaum). Mas nada é ainda um plano concreto. 
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Essa frase “me libera”, cantada assim, no momento da prisão, mas com outra intenção semântica soa lindamente e é rica de sentidos
Caetano Veloso
O hit Me Libera Nega, do cantor e compositor MC Beijinho, ficou conhecido de modo inusitado e ganhou um grande destaque em pouco tempo. Inclusive, um vídeo no qual você canta esse novo sucesso tem circulado em redes sociais. Acompanhou a música feita na Bahia em 2016? 

Não posso dizer que acompanhei. Em geral, chego aqui e ouço o que está sendo mais tocado. Me deparei com o caso especial do Ítalo Gonçalves, o MC Beijinho, com aquela música maravilhosa Me Libera, Nega. É uma canção especialmente inspirada e terna.  O vídeo em que ele a canta (muito bem, com aquele efeito pseudo-eletrônico na voz) algemado no porta-mala de um carro de polícia é uma joia do audiovisual brasileiro. Essa frase “me libera”, cantada assim, no momento da prisão, mas com outra intenção semântica (ele está pedindo à nega para deixar que ele a acaricie – e ainda promete continuar desejando-a quando ela já for idosa!) soa lindamente e é rica de sentidos. A melhor gravação, no entanto, é uma em que ele está com amigos numa rua ou pátio e a canta inteira. Ele, além de inspirado, é muito afinado.  Mas vou ouvindo o que pinta entre dezembro e o Carnaval. Sempre no meio do Carnaval aprendo alguma coisa incrível de que nada sabia antes. 

fonte: Entrevista concedida aos jornalistas Daniel Oliveira e Simone Ribeiro de atarde - página Cultura -14.01.17/reprodução

Mundo:Jovem brasileira está presa nas Filipinas por tráfico de drogas


Yasmin pode pegar pena de 40 anos  - foto:Site Correio do Lago/reprodução


A auxiliar de escritório Yasmin Fernandes Silva, de 20 anos, está presa há mais de três meses em um dos países mais rigorosos do mundo no combate ao tráfico de drogas. Ela foi flagrada em outubro com seis quilos de cocaína no aeroporto de Manila, nas Filipinas.

À polícia, Yasmim confessou que levava a droga - avaliada pelas autoridades locais em cerca de R$ 2 milhões - porque precisava de dinheiro.

Apesar de estar sujeita a penas de até 40 anos de prisão, a jovem brasileira ainda corre o risco de morrer. Isso porque o presidente do país, Rodrigo Duterte, apertou o cerco contra traficantes e luta para reestabelecer a pena de morte.

“A situação dela é difícil, provavelmente ela será usada como um dos exemplos de estrangeiros que chegam ao país e há uma necessidade aos olhos do governo filipino em demonstrar ou desestimular que estrangeiros pratiquem esse tipo de ato no território deles”, explica o advogado de Direito Internacional, Manuel Furriela. 

Água suja e saúde debilitada 

Yasmin morava com a avó materna em uma casa humilde na zona norte de São Paulo e há um ano foi morar em Goiânia, onde, de acordo com a família, se envolveu com criminosos.

“É uma menina decidida, esforçada, ‘trabalhadeira’, mas se envolveu com pessoas com quem não deveria se envolver”, conta a avó. 

A família da jovem relata ainda que a jovem está sofrendo na cadeia. “Lá eles não dão nada; a água é suja, tem que comprar água para ela beber; ela está com a saúde debilitada porque tem bronquite”, acrescenta. 

O caso da jovem, que não tinha antecedente criminal no Brasil, era mantido em sigilo pela diplomacia brasileira. Ela havia partido do aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo com escala em Dubai.

No mesmo mês, outros três jovens de outras nacionalidades que fizeram a mesma viagem acabaram presos. A suspeita é de que tenham sido cooptados pela mesma quadrilha. 

Brasileiros executados

O caso se assemelha aos dos brasileiros Marco Archer e Rodrigo Gularte, executados em 2015 na Indonésia, após serem presos por tráfico de drogas. A diplomacia brasileira não conseguiu evitar a sentença capital.

O Itamaraty diz que Yasmin Fernandes está recebendo assistência consular e conta com o apoio de advogado. Segundo o especialista em Direito Internacional, apesar do acompanhamento, é pouco provável que a Yasmin seja enviada de volta ao Brasil. 

“Não podemos esperar que ela venha a ser inocentada ou que cumpra penas menos severas do que aquelas que tem sido praticadas em relação aos traficantes filipinos em geral”, pontua Manuel Furriela.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Concurso:UNEB oferta mais 4 vagas para Professor Auxiliar no curso de Medicina


Seleção Docente

Imagem:reprodução/site

Após nomear 10 professores  para o curso de Medicina conforme publicação no Diário Oficial do Estado do dia 07(sábado), a UNEB- Universidade do Estado da Bahia está ofertando mais quatro(4) vagas  para  o curso nas nas áreas de Patologia Médica, Medicina Legal, Iniciação ao Exame Clínico, Semiologia Médica, Dermatologia e Imagenologia.

Os Docentes aprovados atuarão no Departamento de Ciências da Vida(DCV) Campus I em Salvador.

os candidatos devem se inscrever pelo site/link     http://www.concursodocente.uneb.br/FormConcurso.aspx?idConcurso=10

  até o dia 26/01/2017  e a taxa é de R$ 200,00(duzentos reais).

Segundo o edital 118/2016 (veja retificação), para participar do processo seletivo é necessário possuir titulação mínima de graduado ou especialista, a depender da vaga pleiteada.  Os professores selecionados exercerão atividades em regime de trabalho de 20 horas semanais e o salário inicial de R$ 1.727,54.

Não serão exigidos documentos comprobatórios do candidato para fins de inscrição. A avaliação consiste em prova escrita, aula pública, apresentação de memorial e prova de títulos.

fonte:Site da instituição em 13/01/17 

Saúde: “O ensino médico é o mesmo de cem anos atrás", diz novo presidente do hospital Albert Einstein

                                   O novo presidente do Albert Einstein -foto:reprodução/Istoé
                                
A área destinada à direção e à presidência do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, está passando por reformas. É em meio às obras que o médico Sidney Klajner começa a se acomodar na cadeira de presidente da instituição, a mais importante da América Latina no setor médico privado. 
Ele substitui o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do hospital nos últimos quinze anos. Cirurgião gastrointestinal, Klajner está no Einstein desde 1998 e ajudou a forjar algumas de suas marcas, como o trabalho multidisciplinar e o respeito à adoção de práticas que tenham a eficácia devidamente comprovada pela medicina. Também defende a aquisição de novas tecnologias somente quando houver vantagem evidente na sua utilização. “Não adianta comprar uma máquina só porque ela tem uma música diferente ou mais luzes do que a anterior.”
Que marcas o sr. pretende deixar na administração do Einstein?
Quero devolver a liderança da prática médica para o médico. Por muito tempo os hospitais determinaram o que deveria ser comprado, quantos leitos precisariam ser criados, como seria o centro cirúrgico.
Qual a vantagem de passar o controle ao médico?
Ele se sente engajado. São os médicos que vêem os pacientes. Acho que o Einstein chegou aonde chegou porque até de modo estatutário presume-se que seu presidente seja médico.
Que tipo de erro de gestão pode ser cometido por quem não é médico?
Há cerca de quinze anos o hospital comprou um equipamento a laser para tratar problemas de próstata. Logo nos primeiros meses deu uma complicação e a máquina ficou parada. Isso aconteceu porque um gestor achou que ela seria a máquina do futuro, quando nenhum urologista sabia usá-la.
O hospital possui várias equipes multidisciplinares. Por que isso é tão importante?
Há patologias que exigem olhar multidisciplinar, como doenças do sono e síndrome metabólica. E para nós o trabalho em equipe é fundamental.
De que maneira?
O trabalho em equipe deve preponderar sobre o individual, algo que não cabe mais na medicina. Até porque acaba influenciando a sustentabilidade da saúde como um todo. A figura do médico sozinho em seu consultório, com sua caneta e seu estetoscópio, não tem mais lugar. Há protocolos a serem cumpridos baseados nas evidências levantadas pela medicina.
Mas muitos médicos não são formados com essa mentalidade?
Na sua maioria, o ensino médico hoje é o mesmo de cem anos atrás. Prega o modelo hospitalocêntrico e com um médico autônomo. Isso resulta em uma medicina ineficaz, que desperdiça porque exige uma série enorme de consultas, com repetição de exames e tratamentos menos integrados.
O Albert Einstein ficou conhecido pela adoção em primeira mão de tecnologias avançadas. Isso vai continuar?
De fato, o hospital ganhou essa fama. Qualquer que fosse a tecnologia, o Einstein tinha. A primeira ressonância magnética do Brasil foi aqui. Os equipamentos eram comprados conforme o faro. Mas hoje a tecnologia já não é um fator competitivo. E há necessidade de eficiência e corte de desperdício. Comprar um recurso que não agrega ao tratamento é desnecessário.
Como o hospital compra um novo equipamento hoje?
Não se pode substituir uma tecnologia por outra só porque a nova tem uma música melhor ou duas luzes a mais. O mais importante é saber se ela permite que mais pacientes sejam atendidos e se reduz o tempo de recuperação, entre outros benefícios.
Pode dar um exemplo de uma tecnologia recente que atenda a esses requisitos?
O robô para tratar doenças da próstata. A cirurgia robótica demanda a aquisição de um equipamento caro, a formação de médicos para seu uso correto, o uso de insumos de preços diferentes. Mas o tempo de retorno às atividades normais é menor em comparação ao necessário depois de operações convencionais e a chance de o paciente ter como sequelas impotência ou incontinência urinária é menor.
A exibição de aparelhos modernos ainda fascina médicos e pacientes. Há banalização no uso da tecnologia?
Vamos analisar um caso que tivemos, considerando os pinos usados em cirurgias de coluna como tecnologia. Formamos um grupo para dar uma segunda opinião nos casos de indicação de operação. Com a nova análise, caiu à metade o número de cirurgias. O programa foi feito em conjunto com uma operadora de saúde e gerou à empresa uma economia de mais de R$ 20 milhões. A indicação desnecessária dos procedimentos é exemplo de tecnologia mal utilizada e banalizada.
Situações assim também são incentivadas por médicos interessados em receber por procedimento realizado?
Vivemos um modelo de remuneração médica que prevê o pagamento por quantidade de serviço. Quando passarmos a remunerar por valor, isso deve mudar.
De que maneira se daria essa remuneração?
Voltando ao exemplo da coluna: parte da economia feita poderia ser usada na remuneração do grupo que contribuiu para a redução de cirurgias desnecessárias.
Isso exige mudança na mentalidade também de pacientes. Queixas são comuns quando o médico não indica um exame ou procedimento.
A informação deve chegar de maneira adequada ao paciente para que ele seja informado do que agrega valor à sua saúde. Quando bem informado, ele entende que uma tomografia pedida a mais é um risco maior de câncer daqui a 30 anos. Compreende que fazer ressonância do joelho uma vez por mês para ver se o tratamento está indo bem não traz beneficio.
Na sua prática diária, o sr. vê exageros com frequência?
Vira e mexe estou contra-indicando a realização de colonoscopia (exame que permite a visualização do revestimento interno do intestino grosso). Sei que se for encontrado um número determinado de pólipos com características específicas, o exame deve ser repetido somente depois de cinco anos. Caso não seja encontrado nada, depois de dez anos. Não se trata da minha opinião. Está demonstrado. Mas canso de ver médicos, de novo, sozinhos, pedindo colonoscopia todo ano. Sabe aquela linha “aproveita e faz”? É isso.
No ano passado, dois cardiologistas do hospital foram demitidos por suspeita de privilegiarem o uso de um tipo de stent (dispositivo usado na desobstrução das artérias) para obter vantagens financeiras com o fornecedor. Como isso afetou a reputação do hospital?
Vimos que poderia existir uma quebra de confiança no setor de Hemodinâmica. Achamos por bem afastar os profissionais e entregar o caso à Justiça. Foi traumático, mas valeu a pena a correr o risco de imagem. Mostramos que temos barreiras para evitar que isso aconteça novamente.
Que impacto a crise teve nas contas do hospital?
Nos preparamos muito bem durante as gestões do Claudio Lottenberg. Fizemos as lições de casa, apresentamos uma boa performance em 2016 e não postergaremos o que havíamos planejado para investir neste ano.
Um caso raro diante do cenário difícil do ano passado. Qual o segredo desse desempenho em um setor de custos notadamente altos?
Independentemente do contexto, saúde é sempre uma área em crise porque a inflação desse segmento é maior do que a de qualquer país. O consumo e o número de idosos aumentam, a tecnologia é cara e o desperdício, grande. Hoje qualquer estudante de saúde tem que saber lidar com isso.
O sr. poderia apontar o que considera os erros principais na gestão da saúde pública brasileira?
O sistema é fragmentado. Não temos informações adequadas dos pacientes. Além disso, há uma desproporção da concentração de médicos pelo país, resultando em áreas onde não existe atendimento.
O Mais Médicos é um erro?
Se pensarmos no programa de forma estruturante, ele é adequado ao tentar povoar regiões sem médicos. O problema é a forma como ele foi feito, com a importação de profissionais. 
É preciso fomentar a formação local de médicos e oferecer condições de salário, de educação para sua família. Não simplesmente importar um médico, jogá-lo no lugar e achar que vai funcionar.
E qual sua avaliação em relação ao cuidado com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão?
É necessário investir pensando no futuro. A população de idosos cresce e é preciso dar condições para que eles adoeçam mais tarde do que hoje. Se não cuidarmos com prevenção, lá na frente vamos pagar o que não precisaríamos ter pago.
Como principal hospital privado do País, o Albert Einstein tem responsabilidade social de peso, especialmente em um setor tão carente quanto o da saúde. O que está sendo feito nesse sentido?
Isso é um valor. Não existe falar em Einstein sem pensar em responsabilidade social. E conseguimos fazer isso em várias frentes, com parcerias públicas e campanhas que atingem a população como um todo.
Pode dar um exemplo?
O programa parto adequado (parceria com o Ministério da Saúde, aplicado em 40 hospitais, com o objetivo de reduzir o número de cesarianas e de morte materno-infantil). Temos colhido frutos muito bons.
O que será a medicina do futuro segundo o Einstein?
A atividade tem de ser norteada pela medicina de evidência, centrada no que é bom para o paciente, e que tenha sustentatibilidade para o sistema como um todo. Tudo isso com o senso de responsabilidade social. Queremos trazer isso para o país e a sociedade. Se conseguirmos assumir um papel de protagonismo nesse sentido, estamos com o papel cumprido. 
fonte:Reportagem de Cilene Pereira/Revista Istoé/edição 13.01.2017